sábado, 14 de agosto de 2010

O Sujeitinho - I



Enxergava, com escárnio e desprezo, todas as manifestações cotidianas da sua sociedade. Uma figura dramática, o tal Tom Shed. Um sujeitinho, a julgar, bastante comum, a não ser pelos seus olhos; “espelhos de uma noite triste”. Certo dia – e sempre há um dia certo - ele vagava pelas ruas, de qualquer lugar familiar, e deparou-se com seu veneno; Natália Friggs, a bela flor do desespero.

Era fim de tarde, os últimos raios de sol se despediam e o vento os saudava. O garoto não tinha talento com as palavras que levavam a beijos, mesmo assim, sorriu e tentou fazer um comentário simpático. Arrancou uma risadinha e um olhar carinhoso, e nada mais.

Não era novidade para os seus amigos, Tom estava agarrado naquela paixão insana. Nos tempos de escola, tomou, dela, um fora categórico e ficou sem prestígio na praça – deve fazer algum sentido -, contudo, continuou alimentando aquela insanidade. Os dias passariam e, fatalmente, ela encontraria “o príncipe do cavalo branco”; não importava. Bastava a pureza da sua esperança.

Ninguém o compreendia. Aproveite a vida (forma indireta de “encontre outra garota”) diziam os pais e os amigos, e ele se esquivava tentando explicar o inexplicável. Estava vivo naquela sensação. Às vezes, o termo paixão não conseguia explicar o sentimento que nutria; era algo peculiar, único. Apesar da esperança, tinha um medo profundo, formulado sob uma pergunta; e... se acabasse?

Dois dias depois.

- Nossa... Eu nunca mais pensei em você – ela disse vitoriosa, e o mundo desabou.

Foi cômico e triste. Mergulhou nas trevas; mas não permaneceu no fundo. Acordou. O sujeitinho, assim, continuava a vagar. Ainda era o sujeitinho dramático e risonho de sempre, no entanto, passava a sentir um sabor amargo, intragável. A desilusão.

O maldito acontecimento não passava de um estopim. É difícil fazer parte de uma humanidade decadente, insegura e individualista. Ainda mais sem uma paixão. Mas por trás daquele ar descontente, a esperança ainda respirava. Tom Shed era sombra querendo ser luz.

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