O meu olhar despertou incerto, e o destino mais ainda. Não sabia onde estava. Havia pouca luz naquele ambiente mórbido. Olhei para cima e enxerguei um circulo luminoso, entrecortado por grades. Levantei-me a muito custo, e tentei lembrar a causa e a circunstância daquele cárcere; sem sucesso. As paredes eram de um cinza desbotado, o chão era nu e a porta enferrujada. Andei até a porta e tentei forçá-la; foi inútil, retornei para o facho iluminado. Escutei vozes.
- Esse prisioneiro é novo, dê as boas-vindas – (gargalhadas).
A porta foi aberta. Um homem encapuzado, vestindo preto, pôs-se a me observar. Outros dois - trajados como o primeiro - entraram e arrastaram-me para fora da minha cela. Largaram-me, de bruços, no chão.
- Levante-se! – ordenou um deles.
Quando apoiei meu antebraço no piso, um chute me derrubou. Eles riam como porcos. Recebi outros chutes.
- Por quê? – falei com a voz sufocada.
Não responderam, só riram mais. Colocaram-me de pé.
- Em frente, babaca!
Andei cambaleante pelo corredor; uma lâmpada quase apagada tentava iluminar o caminho. Segui até um portão vigiado por mais daquelas figuras sombrias e, enfim, saí daquela “caverna”. O sol, escondido pelas nuvens, não mandava mais seus raios.
Olhei ao meu redor: solo de terra batida, enormes muros, duas filas de prisioneiros separadas por uma grade e as “sombras” – como batizei os carcereiros – coordenando o movimento daqueles seres enfileirados. Depois percebi, uma fila era feminina e a outra masculina.
Os prisioneiros, descalços e carecas, trajavam uma túnica bege, suja pela terra e pelo sangue. Observei minhas roupas e tateei minha cabeça; estava do mesmo jeito que os outros.Pensei: “Estou num pesadelo”. Mas descartei. “Não, a dor é real demais”, repensei. Fui levado até a minha fila. Algo sublime e maldito estava prestes a acontecer.