quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Poesias Capengas, talvez.

Ainda não sei o que é isso; algumas poesias capengas,talvez.



Impar

Fui dragado pelo meu inverno;
Andei em círculos na neve,
Faminto e sem esperança,
Não pude lutar, nem fugir.
A noite caiu, e com ela eu também.

Purgatório

Eu nada mais queria
Senão contemplá-la
Em minha solidão.
Ó anjo diabólico
Que se fez maldição.

Eu nunca iria tê-la
Senão em sonhos torpes
Que dois corpos são um só.
Ó anjo diabólico
Que me fez perdição.

Eu jamais a veria
Senão em minhas febres
De poeta e pateta.
Ó anjo diabólico
Que arde com sua boca.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vingança em Cena - 1° Ato

Máscaras Do Teatro (comédia Da Tragédia)

Aconteceu em alguma ilha remota...

A noite ostentava uma bela lua cheia e a brisa morna acrescentava um toque mágico. Aquela noite seria um marco para a sociedade da ilha; a multidão se aglomerava em torno do teatro. A companhia teatral preparou algo especial, que perturbaria os poderosos e daria fim ao longo silêncio. A ilha era controlada por três homens inescrupulosos:

O rico empresário, Nestor Figueira, mantinha o domínio - direto e indireto - de todos os estabelecimentos comerciais,industriais e imobiliários da ilha. Os preços eram, absurdamente, altos e devoravam o mísero salário dos trabalhadores. Era um homem baixo, franzino, de óculos e com 57 anos. Posava de devoto fervoroso, mas não tinha remorso no tratamento desumano para com seus inquilinos e empregados. Casas caras de péssima qualidade, remuneração miserável e nenhum segurança no trabalho; e assim, ele ia poupando dinheiro e arruinando vidas.
O chefe do crime, João Meira, era o responsável por todo tipo de serviço sujo: prostituição,estupros,tráfico,assaltos e violência gratuita ou encomendada. Despertava medo e nojo em todos, ninguém levantava a voz para ele. Era um homem robusto -entenda-se por gordo-, com 40 anos, de uma cara debochada e um olhar ameaçador. Nestor e Maicon tinham sempre um serviçinho para João; que ele fazia com prazer.

O prefeito, Maicon Dhab, possuía o “dom” da politicagem. Condenava a violência e a corrupção nos seus discursos enérgicos; embora ele praticasse ambos - vai entender. Ganhava muito dinheiro por fora. Semanalmente, discursava na praça e, no final do seu falatório, o povo brandia a mão; após singelo incentivo do pessoal do João. Quem não brandisse ou comparecesse, simplesmente, desapareciam do mapa. A polícia e a imprensa estavam minadas pela influência de Maicon.

Ninguém ousava criticar esse tripé do poder, mas aquela noite foi atípica. O enorme e rústico teatro abrigou quase toda a população da ilha, incluindo os três poderosos. Foi uma bomba, o roteiro satirizava os meios de poder daquele tripé; insinuaram a hipocrisia da religião de Nestor, dos discursos de Maicon e, por fim, ironizaram a covardia de João, que só atacava com bandos armados. Gargalhadas tomaram o espaço, enquanto os poderosos se contorciam nos seus acentos. Uma cena foi estupenda, os três brincavam numa casa de bonecas, decidindo qual as roupas dos brinquedos e quem merecia viver; não passavam de um bando de mimados.

O espetáculo foi interrompido antes do término. O grupo de João, todos armados, mandaram que o público saísse, o que não demorou, apesar do teatro ter só uma saída. O espaço ficou quase deserto, Maicon apontou o dedo para o elenco e balançou o braço freneticamente, comprimindo todos os músculos da face. As conseqüência seriam terríveis.

Na noite seguinte, o teatro era uma enorme pira. O incêndio foi acidental segundo a perícia e, posteriormente, a imprensa. Mentira. João e seu grupo, a mando de Nestor e Maicon, colocaram fogo na estrutura. “Ninguém tinha escapado, o fogo consumiu todos” afirmava o laudo. Estavam enganados, um jovem conseguiu ultrapassar a saída, antes que o forro cedesse e interditasse a passagem. Quem era ele?

Dois dias depois do desastre, um rapaz aproximou-se dos escombros, ajoelhou-se e recolheu a metade queimada de uma máscara feliz.

- Juro, os responsáveis pela morte da minha Dora, da minha família e dos meus amigos, pagarão com a vida - duas lágrimas correram.

Olhou ao seu redor.

- As pessoas merecem algo melhor do que as rédeas desses três mimados.Essa será minha última peça; minha melhor peça.

Nascia um personagem de máscara ora feliz, ora triste; e Nestor seria o primeiro a presenciar sua atuação.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As Cartas


O destino,naquele dia nublado, reservou uma série de situações curiosas. O jovem Juca Kipp teria uma surpresa naquela manhã de outono. O vento brincava com as folhas que o tempo consumiu e a chuva se aproximava. Juca vestiu o primeiro casaco ao seu alcance e foi verificar a correspondência. Muitas coisas passavam por sua mente; seu bem querer não era seu - e nunca seria - e a guerra batia na sua porta. Quando abriu a caixa de correspondências, deparou-se com duas cartas: uma era de uma pompa maldita e a outra bastante simples.

Levou as cartas para dentro de casa e, após um longo suspiro, abriu a pomposa. “Juca M. Kipp, o senhor está convocado para lutar pela tua pátria...”, Juca soube que partiria para a morte certa; a guerra, numa região remota do globo, era responsável por um número hediondo de mortes humanas. Juca Kipp já estava arrasado com a impossibilidade de fazer feliz quem gostaria, da maneira que gostaria... E agora isso? Ser o peão de um guerra baseada na incapacidade política e na ganância?

Esmagou a carta com a mão esquerda e a arremessou com violência. “- Que porra! - finalizou”. Levou as mãos à cabeça e procurou raciocinar. Após alguns minutos, olhou para a outra carta. Apanhou-a e leu o impossível. As palavras no envelope eram claras: “ De: Juca M. Kipp Para: Juca M. Kipp”. O conteúdo seria muito mais perturbador.

“Eu sou você em outra dimensão. Isso é realmente estranho, mas você deve acreditar ao verificar a grafia e saber do que eu sei:você sonha todas as noite com corvos. Não importa como essa carta chegou até você, importa que chegou. Soube que eu, em outra dimensão, estava numa situação desgraçada. Juca, na minha dimensão eu(você) estou com quem queria estar e ela está feliz ao meu lado. Tudo aconteceu perfeitamente, como planejei. Espero que tenha ajudado. ”

“Eu sabia que nós íamos conseguir, Beth; estamos juntos e felizes ”, pensou o jovem Kipp e,em seguida, foi para a junta militar.


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