quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dançando com Sombras - Parte IV (Final)

Os guardas surgiam e a faca dançava, recortando sombras e se embebedando de sangue. Cinco carcereiros ao chão. Eu estava num estado de frenesi: olhos saltados, respiração ofegante e batimentos acelerados. Observava a lâmina ensangüentada, quando a porta foi aberta. Uma luz ofuscante e duas silhuetas.Após minha visão acostumar-se, percebi; Viviane e um estranho. A estranha figura aplaudiu e apontou um revólver para mim.

- Basta, você já cumpriu com o seu propósito - o homem desconhecido disse em tom autoritário.

- Hã?

-Permita que eu explique. Você é como uma cobaia de laboratório, participa de um experimento e pronto.

- Que merda é essa?! Por que estou aqui?! - Samuel gritava agonizado.

- Uma experiência sobre os sentimentos primários do homem. Você foi escolhido aleatoriamente, não pense ser especial ou perseguido. Limpamos suas memórias e te trouxemos para cá; o nosso “laboratório”.Prepare-se para dormir. Um,dois...

- Espere! O que vai fazer com ela?

- Nada, ela trabalha para mim.

Samuel olhou chocado e não proferiu nenhuma palavra.

- Você achou que tudo foi destino? A cela vizinha e tudo mais? - indagou gargalhando.

- Isso é mentira! Como sabiam que eu olharia para ela na fila e conversaria por aquele maldito buraco?!

- Nem tudo é planejado. Como disse, você é uma experiência, ou seja, podia dar certo ou não; o experimento foi um sucesso - falava sem esboçar arrependimento e seus olhos até brilharam ao dizer “sucesso”.

Subitamente, lembrei das últimas semanas. Das estranhas coincidências. Uma mentira, uma armação.

- Você sentiu amor,ódio,dor e,enfim, vingou-se. Não existiram outros prisioneiros ou carcereiros, não passou de uma encenação pela ciência.

Samuel ajoelhou-se. Júlio, meu chefe, aproximou-se da triste figura ajoelhada. Gargalhando, apertou o gatilho.

- Adeus, minha cobaia - Júlio afirmou tomado pelo sarcasmo.

Pensei: “Por que lutar, se eu vivi uma mentira e nem sequer tenho um passado? Não sou capaz de lembrar da minha família, meu amor é uma farsa e tornei-me um animal; para que resistir?”. Atirou no meu ombro direito, a faca caiu. Repensei: “Morrer de joelhos, pelas mãos do meu carrasco;ele vai ficar perplexo com o último resultado da sua experiência”.

- A experiência está fora de controle - os lábios de Samuel esboçaram um sorriso.

Recuperou a faca usando a mão esquerda, fincou no pé de Júlio, que revidou disparando. Não era o fim. Samuel atacou mais três vezes, perfurando o peito do oponente e fazendo a verdade jorrar. Júlio estava morto. Em seguida, Samuel desabou e fitou-me eternamente; também havia morrido. Eu o matei. Larguei meu emprego. No fundo, morri também.

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