terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dançando com Sombras - Parte III



As manhãs passaram. As noites ficaram. A luz do dia me trazia a agonia, a treva da noite a magia. Talvez, estivéssemos apaixonados e a felicidade fosse questão de tempo; mas não. Lembro dos risos, das juras e das promessas de liberdade; apenas lembro. Restou um oco no peito, um futuro de migalhas e uma raiva profunda.

Uma luz cortou minhas pálpebras; despertei. Escutei uma movimentação estranha, a porta da minha cela foi aberta e um coro de risadas tomou o éter. As “sombras” estavam diante de mim.

- Hoje, levaremos a sua namoradinha – o maldito, então, gargalhou.

Levantei e encarei aqueles seres “sem” face. Uma mulher e um homem escoltavam Viviane para fora da cela. Eu não hesitei, investi com fúria contra os carcereiros. Tolice. Fui imobilizado. Ela estava cada vez mais longe. Gritei até ficar sem forças e Viviane me fitou desdenhosamente; nunca me esquecerei daquele olhar marejado e julgador.

- O que foi que eu fiz?

- Você mentiu para mim. Você não nos salvou – ela sentenciou.

Foi a última coisa que vi, antes de ser desacordado. Uma brisa melancólica beijou meu rosto, acordei aos poucos, apoiei a palma da mão no chão e sentei. Coloquei a mão na cabeça; sangue. “Droga” - pensei. Meu réquiem havia começado.Sussurrei uma palavra na calada daquela noite sanguinolenta: “Vingança”. Culpei as “sombras” pela minha incapacidade. Estava me transformando, a “culpa” seria minha justificativa e a vingança meu prazer. Não sabia se era por ódio ou por amor.

Seria impossível reaver o que me foi roubado: o passado, o presente, o futuro. Mas não ficaria de joelhos a espera do próximo golpe.O amor e o ódio dançariam aquela tarde. Um dos guardas entrou para inspeção de rotina, eu estava cabisbaixo,sentado num canto e encolhido. Ele estranhou e aproximou-se. Levantei o olhar e percebi um objeto reluzente na cintura dele; uma faca.Um sabor amargo na boca e uma escolha feita de ferro surgiram. Decidido, tomei a faca e cravei-a no peito do seu antigo dono; senti uma satisfação sombria e gargalhei. Saí pelos corredores a fim de encontrá-la e erradicar as "sombras".

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Contador Grátis