terça-feira, 6 de setembro de 2011

Cadeira Vazia

O julgamento estava prestes a começar, no entanto, uma cadeira permanecia desocupada. O júri e os demais presentes já esboçavam impaciência ao verem o grande relógio digital marcar 20h e 21min. O réu deveria estar acomodado há 21min no macio estofado azul, mas não estava.

No banheiro de uma lanchonete, próxima ao tribunal, um jovem de paletó cinza, camisa branca e gravata azul, frouxa. Olhava fixamente o seu reflexo num espelho 30x20. Sabia do seu compromisso, porém questionava-se: “Por que devo ir?”. Todos os dias ele ia para o tribunal, no mesmo horário e pelo mesmo pretexto - prestar contas. Tal hábito incomum pode parecer estranho aos que desconhecem a rotina de Samuel Samuelson. Ele não era um criminoso, nem algo do gênero. Era apenas um simples jovem de classe média.

Como se não bastasse o dia cansativo, também havia o julgamento de praxe. O juiz, geralmente, afirmava que se tratava de um aconselhamento e não de um julgamento de fato. “Mas eu não pedi conselhos”, queixava-se. Garoto arrogante e insensível esse Samuel Samuelson! “Santidade não é o título que quero abraçar, meritíssimo!”. “Mas não está certo, rapaz. Diga isso, faça isso.”.

Hoje, o diálogo não seria o de sempre. Samuel só queria o direito de permanecer calado. No lugar da presença, uma carta disposta na mesa por um pequeno mensageiro de canelas finas e rosto imberbe. O juiz recolhe o envelope, abre-o, retira a folha de caderno e lê em voz alta:

“Caríssimos e caríssimas,

O nervoso e despreparado, em questão, pede a concessão de um momento regido pela paz, sem preocupações, no qual conversemos como gente a fim de escutar uma voz amistosa na noite fria ou quente de qualquer lugar.

Atenciosamente,

Samuel Samuelson ”

Todos se entreolham com rostos confusos. Será que entendem Samuel? Não? Não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Contador Grátis