segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vingança em Cena - 1° Ato

Máscaras Do Teatro (comédia Da Tragédia)

Aconteceu em alguma ilha remota...

A noite ostentava uma bela lua cheia e a brisa morna acrescentava um toque mágico. Aquela noite seria um marco para a sociedade da ilha; a multidão se aglomerava em torno do teatro. A companhia teatral preparou algo especial, que perturbaria os poderosos e daria fim ao longo silêncio. A ilha era controlada por três homens inescrupulosos:

O rico empresário, Nestor Figueira, mantinha o domínio - direto e indireto - de todos os estabelecimentos comerciais,industriais e imobiliários da ilha. Os preços eram, absurdamente, altos e devoravam o mísero salário dos trabalhadores. Era um homem baixo, franzino, de óculos e com 57 anos. Posava de devoto fervoroso, mas não tinha remorso no tratamento desumano para com seus inquilinos e empregados. Casas caras de péssima qualidade, remuneração miserável e nenhum segurança no trabalho; e assim, ele ia poupando dinheiro e arruinando vidas.
O chefe do crime, João Meira, era o responsável por todo tipo de serviço sujo: prostituição,estupros,tráfico,assaltos e violência gratuita ou encomendada. Despertava medo e nojo em todos, ninguém levantava a voz para ele. Era um homem robusto -entenda-se por gordo-, com 40 anos, de uma cara debochada e um olhar ameaçador. Nestor e Maicon tinham sempre um serviçinho para João; que ele fazia com prazer.

O prefeito, Maicon Dhab, possuía o “dom” da politicagem. Condenava a violência e a corrupção nos seus discursos enérgicos; embora ele praticasse ambos - vai entender. Ganhava muito dinheiro por fora. Semanalmente, discursava na praça e, no final do seu falatório, o povo brandia a mão; após singelo incentivo do pessoal do João. Quem não brandisse ou comparecesse, simplesmente, desapareciam do mapa. A polícia e a imprensa estavam minadas pela influência de Maicon.

Ninguém ousava criticar esse tripé do poder, mas aquela noite foi atípica. O enorme e rústico teatro abrigou quase toda a população da ilha, incluindo os três poderosos. Foi uma bomba, o roteiro satirizava os meios de poder daquele tripé; insinuaram a hipocrisia da religião de Nestor, dos discursos de Maicon e, por fim, ironizaram a covardia de João, que só atacava com bandos armados. Gargalhadas tomaram o espaço, enquanto os poderosos se contorciam nos seus acentos. Uma cena foi estupenda, os três brincavam numa casa de bonecas, decidindo qual as roupas dos brinquedos e quem merecia viver; não passavam de um bando de mimados.

O espetáculo foi interrompido antes do término. O grupo de João, todos armados, mandaram que o público saísse, o que não demorou, apesar do teatro ter só uma saída. O espaço ficou quase deserto, Maicon apontou o dedo para o elenco e balançou o braço freneticamente, comprimindo todos os músculos da face. As conseqüência seriam terríveis.

Na noite seguinte, o teatro era uma enorme pira. O incêndio foi acidental segundo a perícia e, posteriormente, a imprensa. Mentira. João e seu grupo, a mando de Nestor e Maicon, colocaram fogo na estrutura. “Ninguém tinha escapado, o fogo consumiu todos” afirmava o laudo. Estavam enganados, um jovem conseguiu ultrapassar a saída, antes que o forro cedesse e interditasse a passagem. Quem era ele?

Dois dias depois do desastre, um rapaz aproximou-se dos escombros, ajoelhou-se e recolheu a metade queimada de uma máscara feliz.

- Juro, os responsáveis pela morte da minha Dora, da minha família e dos meus amigos, pagarão com a vida - duas lágrimas correram.

Olhou ao seu redor.

- As pessoas merecem algo melhor do que as rédeas desses três mimados.Essa será minha última peça; minha melhor peça.

Nascia um personagem de máscara ora feliz, ora triste; e Nestor seria o primeiro a presenciar sua atuação.

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